Margarida Cardoso: O que foi criado com o mal não é reparável
Diz que o seu cinema vive de um ambiente de pós-catástrofe. Às vezes, catástrofes que demoram anos, que são lentas, mas não deixam de ser eficazes. Como antes tinha filmado o fim do império, em "A Costa dos Murmúrios", Margarida Cardoso mostra agora o fim da utopia dos países e homens novos que, a partir de África, quiseram mudar o mundo. "Yvone Kane", que estreou ontem nas salas portuguesas, passa-se num país africano sem nome. Podia ser Angola, podia ser Moçambique, podia ser outro país africano onde à grande esperança da independência se seguiu a desilusão do poder. Desde que começou a realizar filmes, há quinze anos, que Margarida Cardoso olha para os ecos do passado colonial. Passou a infância em Moçambique e só regressou quase vinte anos depois para perder o romantismo do regresso. Gostava de fechar alguma coisa, enterrar o passado, mas o trabalho de fazer filmes é um trabalho de desenterrar, e novas eras seguem-se às crises, até às catástrofes.
in Jornal de Negócios

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