Um programa de instalação de painéis fotovoltaicos, que vai beneficiar várias dezenas de vilas moçambicanas, acaba de “ligar ao mundo” a localidade de Machaniça, na província meridional de Inhambane, num projecto monitorizado pela portuguesa TESE – Sem Fronteiras.
Junto à principal estrada moçambicana, a EN1, a instalação do sistema fotovoltaico na escola básica de Machaniça veio alterar o quotidiano da pacata localidade, cuja população de mais de 3.000 habitantes tem agora, por exemplo, a possibilidade de assistir através de um televisor ao Mundial de Futebol no Brasil.
“Registávamos problemas sérios relacionados com falta de electricidade, como o carregamento dos telemóveis ou o acesso a informações sobre o que se está a passar no país”, disse à agência Lusa Carlos Tsope, director da unidade de ensino, na qual estudam 605 crianças.
O televisor, oferta do Fundo Nacional de Energia (FUNAE), que promove o projecto de instalação de painéis fotovoltaicos com financiamento do Banco Mundial, é, segundo o docente, apenas um dos vértices da mudança que o vento da energia está a trazer à região.
“Os professores planificam as suas aulas durante a noite e já temos a perspectiva de, a partir de 2015, arrancarmos com um curso nocturno na área de alfabetização, porque muitos adultos não conseguem vir estudar durante o dia”, adiantou.
No projecto, que vai atingir 250 escolas, 242 unidades de saúde e 30 vilas, a organização não-governamental portuguesa (ONG) Tese – Sem Fronteiras, que internacionalmente opera em Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, é responsável pela monitorização do processo de instalação dos painéis fotovoltaicos, a cargo de duas empresas, a alemã CD CAA e a sul-africana Battech.
“A nossa função é fazer a supervisão da instalação dos sistemas fotovoltaicos, formar quem vai utilizar os painéis em operações de manutenção, acima de tudo preventivas”, adiantou à Lusa Miguel Silva, diretor da TESE, explicando que o projecto se insere na missão vocativa da ONG no contexto internacional, focada nas áreas “de energia, abastecimento de água e saneamento com a componente de resíduos”.
Com prazos de utilidade de 20 anos, no caso dos painéis, e entre seis e sete anos no das baterias que suportam o sistema, a instalação e manutenção dos equipamentos representa o principal desafio do projecto.
“A maior dificuldade tem sido conseguir que tudo aquilo que está previsto para a instalação em termos técnicos esteja rigorosamente feito, sem riscos de segurança, e instalado de forma a que o tempo de duração dos equipamentos possa ser aquele que é garantido pelos fabricantes”, explicou Miguel Silva.
Além de escolas e centros de saúde, o projecto está ainda focado na disponibilização de energia a residências particulares, estabelecimentos comerciais e locais de interesse público, como poços de água.