Nuno Costa Santos: vocação criativa reconhecida na Europa

Há vocações que chegam mais tarde e outras que nunca nos apercebemos de que as temos. No caso de Nuno Costa Santos nunca houve dúvidas: "Desde muito cedo que demonstrei a minha vocação criativa e as minhas competências de escrita", conta o escritor, de 43 anos.

Mas ser escritor é muito mais do que saber quais são as palavras que melhor se encaixam na construção de uma frase, saber onde deve ser colocada uma vírgula ou usar a figura de estilo mais adequada. "A escrita exige muito. É preciso ser-se muito disciplinado e criar um hábito de escrita diário". Se a isto juntarmos uma boa dose de talento literário, teremos uma receita quase infalível para se escrever um bom livro.

E, ao que parece, Nuno tem sido um bom "cozinheiro", uma vez que é o único talento português convidado para o "Festival du Premier Roman" (em português, Festival do Primeiro Romance), com o livro que saiu do forno o ano passado, "Céu Nublado com Boas Abertas".

Este livro tem uma narrativa bastante pessoal, com uma respiração natural e uma componente quase autobiográfica. O primeiro romance de Nuno não só prima pela "delicadeza", como tem uma mistura entre "pudor e despudor" necessária para fazer jus às memórias dos avós, as figuras principais das páginas que respiram no Caramulo e nos Açores. "Não queria de forma nenhuma escrever alguma coisa que perturbasse as memórias da minha avó. Foi arriscado, mas tive consciência disso", admite.

O narrador do livro é um misto do "real e do não real", do "eu e do não eu". Para Nuno, "uma das obrigações dos escritores é escrever sobre uma temática que lhes seja próxima." Por essa razão, o romance baseia-se na vida dos seus antepassados, focando-se num livro de memórias escrito pelo avô,  internado na estância do Caramulo, durante os anos 40 do século passado.

Talvez esta mistura entre ficção e não ficção tenha sido uma das razões que destacou "Céu Nublado com Boas Abertas" no festival francês, que terá lugar de 18 a 21 de maio, em Chambéry, França. "Já tinha conhecimento deste festival, mas não me ocorreu que me fossem convidar. A dada altura comecei a ser chamado por vários grupos de leitores, que escolhem o primeiro romance português, e fui percebendo o interesse. A partir de certo momento comecei a acreditar que talvez fosse possível, que isto poderia acontecer… não sei explicar porquê", conta.

E quem escreve um, escreve dois. O próximo romance já está a ser temperado. Um capítulo está escrito e as ideias já são muitas, assim como os apontamentos e os pormenores. "Falta-me apenas entrar no regime diário, entrar num ?mosteiro criativo', que vai acontecer em breve." Primeiro, Nuno tem de concluir os projetos que está a desenvolver em paralelo, como a edição (em breve) de um livro de crónicas e a escrita de uma peça de teatro que vai começar a ser ensaiada ainda em maio. "Gosto de estar envolvido em vários projetos ao mesmo tempo."

Apesar de "Céu Nublado com Boas Abertas" ter sido construído num universo bastante melancólico, também houve a necessidade de fabricar as ideias com humor para "tornar o mundo e a vida mais leves." Apelando ao lado mais humorístico, há um contraste nas temáticas do livro, que vão do trágico à morte e às doenças. "Mais do que uma estratégia é uma forma de olhar a vida e de a recriar. Não estou sempre sintonizado nesta filosofia, mas sempre que posso faço esse exercício. O humor é uma forma de felicidade no meio do caos", admite.

in Diário Economico

Ver original


Parcerias

Arquivo