Maria Luís diz que “não ficaria surpreendida com a privatização da CGD”

Dependendo do contexto, Maria Luís Albuquerque, não se opõe à privatização da CGD. “Não me chocaria”, diz a ex-ministra das Finanças em entrevista ao Dinheiro Vivo/TSF que explica que essa opção teria de ter em conta o contexto concreto em que se tomaria essa decisão. “Neste momento não me parece que faça sentido, porque o sistema financeiro precisa ainda de se consolidar e ainda está a recuperar da crise que o país atravessou.”

“Os problemas do sistema financeiro não foram escondidos” defende Maria Luís que lembra o escrutínio a que o sistema estava sujeito pelo facto de Portugal estar sob assistência económica e financeira. “A troika ainda não se foi completamente embora”, lembrou.

“Os problemas do sistema financeiro não foram criados durante a anterior legislatura. Os problemas vinham de trás e começaram a ser resolvidos já durante o período de ajustamento”, diz Maria Luís Albuquerque.

Por outro lado Maria Luís Albuquerque garante que não foi o Governo anterior a deixar o banco do Estado a caminho do resgate, como acusa Mário Centeno, ministro das Finanças.

“Se a CGD estivesse na situação frágil, que pretendem fazer crer, nunca teria resistido à sucessão inenarrável de erros que este governo cometeu com a CGD, desde a trapalhada com as administrações, o arrastar dos processos, os alarmes criados sobre supostos buracos que existiriam no plano da CGD. Parece-me uma evidência difícil de contrariar”, diz a ex-ministra.

“A Caixa foi recapitalizada em 2012 pelo montante identificado e ainda com alguma almofada para fazer face a imprevistos. O que aconteceu com a CGD foi o que aconteceu com todos os outros bancos, ou seja, aquilo que era a previsão de evolução de taxas de juro não se concretizou, todos os outros bancos precisaram de mais capital, que foram buscar aos seus acionistas privados”, defende

Maria Luís explica que a CGD,”não tendo acionistas privados, tinha de recorrer ao investimento público. A CGD nunca incumpriu com nenhum rácio e o governo, depois de estar em funções, demorou 15 ou 16 meses até recapitalizar a CGD. Não consigo conciliar isso com afirmações de que a CGD estivesse à beira de um desastre. Como digo, se estivesse, nunca teria resistido àquilo que o Governo lhe fez”.

Sobre o Banif que foi liquidado já pelo atual Governo, no inicio da legislatura, Maria Luís recusa que tenha sido responsabilidade do anterior Governo a resolução do banco.

“O Banif é um caso muito, muito lamentável. Foi sempre um processo complicado desde o início e sabíamos, assim como as autoridades europeias e o Banco de Portugal sabiam, que era um processo complexo para resolver”, admitiu. “No momento em que saímos do governo, deixámos um processo de venda já iniciado para conseguir uma venda em condições que não tinham sido ainda aprovadas pela Direção-Geral de Concorrência, que estavam em negociação, mas havia um precedente em Espanha que tinha seguido um modelo muito parecido. Isso significava que teria havido um prejuízo para o Estado de muito menos dimensão do que aquele que veio efetivamente a ocorrer”, explicou.

“O que aconteceu é que o Governo [de Costa] não fez sequer um esforço para levar o processo do Banif a bom porto, porque tinha a quem assacar a responsabilidade política, que era ao Governo anterior. Não fez sequer o esforço de levar o processo por diante porque isso significaria partilhar a responsabilidade das perdas que viessem a acontecer. Simplesmente resolveu que não queria politicamente ter responsabilidade naquele dossier e pôs lá o dinheiro dos contribuintes para que isso não acontecesse. Acho lamentável. O desfecho deveria ter sido diferente”, refere a ex-ministra à TSF/Dinheiro Vivo.

Já sobre as sugestões do grupo de trabalho que foi criado para analisar a dívida pública diz: “O reembolso antecipado ao FMI, claramente, que faz todo o sentido. Nas outras, algumas não dependem de todo de nós, outras são incompatíveis com os tratados europeus e outras parecem-me francamente muito más ideias”.

 

in Diário Economico

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