"Todos os Caminhos Estão Abertos": escrita inconformista

Nascida em Zurique, em 1908, filha de um proeminente industrial, Annemarie doutorou-se em História aos 23 anos. Depois de conhecer Erika e Klaus Mann, filhos do grande escritor alemão, vai para Berlim e adopta a vida boémia da capital nos últimos anos da República de Weimar. Fez várias viagens com Klaus a Itália, França e Escandinávia. No regresso de uma primeira viagem à Pérsia acompanha Klaus Mann a Moscovo para participar no primeiro Congresso de Escritores Soviéticos, em 1934.

A proposta de um casamento de conveniência ? dada a homossexualidade dela e a bissexualidade dele ? não se concretiza e Annemarie acabará por casar com um diplomata francês, também ele homossexual, e com quem viverá durante um tempo, primeiro em Teerão e depois, para fugir ao calor da capital persa, no campo. Este isolamento irá afetar o já frágil equilíbrio mental da suíça, que encontra refúgio na morfina.

A relação difícil que sempre manteve com a mãe terá estado na origem das suas diversas depressões e tentativas de suicídio, agravadas pelas tensões com outros membros da família que apoiavam o movimento fascista suíço e a Alemanha de Hitler. Em 1937 e 1938 viaja pela Áustria e Checoslováquia onde documenta fotograficamente a ascensão do nazismo, e realiza uma primeira viagem aos Estados Unidos, em particular ao sul profundo e às minas de carvão à volta de Pittsburgh. No ano seguinte, numa tentativa de diminuir a sua dependência da morfina e de se afastar do nazismo crescente, sai de Genebra no Ford Roadster Deluxe que o pai acabara de lhe oferecer, acompanhada da sua amiga, também fotógrafa, Ella Maillart. Percorrem os Balcãs, a Turquia e o Irão, com o objetivo de chegar ao Afeganistão.

"Todos os Caminhos Estão Abertos", editado pela Relógio d'Água, é uma seleção de textos que Annemarie Schwarzenbach escreveu sobre essa viagem, e onde se destaca a depuração da sua prosa, a intensidade e beleza das descrições de pessoas e lugares, em particular dos nómadas do Turquestão e das montanhas afegãs, onde bebe chá entre os pastores, distribui comida e medicamentos e é acolhida com a hospitalidade (anteriormente) típica da região.

Viria ainda a realizar outras viagens, incluindo a Lisboa em Maio de 1942, normalmente de carro e acompanhada de amigas fotógrafas ou escritoras. Infelizmente, nem tudo o que escreveu sobreviveu à sua morte, após uma queda de bicicleta, com apenas 34 anos, dado que a sua mãe destruiu muitas das suas notas e cartas.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

in Diário Economico

Ver original


Parcerias

Arquivo