Anticomunismo

"Quando os assuntos internacionais vão a votos no Parlamento, os media dominantes parecem regressar ao passado: sempre a favor dos norte-americanos e contra os russos." Esta paráfrase da epígrafe do artigo de Gustavo Sampaio, de 28ABR17, neste Jornal, é a simetria perfeita de quem não se olha ao espelho. O seu fio-de-prumo é o imperialismo norte-americano. Onde os EUA deitam bombas, antes ou depois de Trump, é sempre um país que estava mesmo a pedi-las. O que dizem no Conselho de Segurança é a "verdade", mesmo que se trate de uma mentira provocatória, como a das «armas de destruição massiva» no Iraque. Aliás, quem se opõe aos EUA sempre merece bombas? No contraponto, a Rússia é um "regime autoritário desafiante de Washington na esfera internacional", o que, por definição (da onda mediática dominante), não pode ser? Tem de ser colaborante, submissa e cúmplice de quantas atrocidades os EUA cometam. Como foi a Rússia de Ieltsin?

Desapareceu a URSS, caiu o muro de Berlim, mas não deram por isso. Tudo continua como dantes quartel-general? na NATO. Que, aliás, só existia por causa da URSS e do Pacto de Varsóvia. Dizem, o mundo mudou. A NATO não mudou. E as ingerências e intervenções imperialistas não mudaram. Continuam, mais e mais despóticas. Sentem as mãos livres, sentem que não têm de dar explicações a ninguém. E à arreata, claro, o anticomunismo, para quem não está de acordo, o PCP. Mas têm razão, o PCP também não mudou. Continua firme na condenação do imperialismo.

Anticomunismo não é sinónimo de crítica ao PCP, aliás facilitada pela clareza e rigor com que fixa ? contrariamente à generalidade de outros partidos ? as suas orientações, posições e propostas ideológicas e políticas em documentos, inclusive em política internacional. Mas é anticomunismo o simplismo grosseiro, as similitudes capciosas e a matriz de preconceitos e chavões consolidada, pelos ideólogos do capital, na abordagem da sua intervenção e posicionamento. É anticomunismo a evidente ignorância do conteúdo dos seus textos, e as leituras e cotejos feitos a partir de títulos e letras grossas e a classificação de factos e acontecimentos à margem dos processos históricos.

O PCP devia aceitar a quotidiana dose de propaganda imperialista, que reproduzem, a sua duplicidade noticiosa e de linguagem e a amnésia selectiva. Por outras: "(?) no quadro da intervenção dos EUA no Afeganistão foram usadas bombas termobáricas contra esconderijos dos talibãs e da Al-Qaeda (?), sendo certo que também os soviéticos as tinham usado contra os guerrilheiros afegãos (?)" (Expresso, 14ABR17). Bastou mudar o país das bombas. Notável! O que eram "guerrilheiros", num passe de magia mediática, transfiguraram-se em "talibãs". Como, aliás, os "rebeldes" de Alepo se chamam Daesh e Al-Qaeda em Mossul.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.

in Diário Economico

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