"Não há sinais de uma bolha imobiliária"

A Avenue, empresa de promoção imobiliária, prevê investir 200 milhões de euros em projetos de reabilitação urbana até ao final de 2020, estando o investimento orientado para edifícios ou terrenos localizados em zonas prime. Desde 2015, e fruto de um plano inicial de investimento de 100 milhões de euros estão atualmente sete projetos em curso, seis em Lisboa e um no Porto. Os restantes 100 milhões de euros estão previstos para o triénio 2018-2020.

Numa altura em que a reabilitação urbana está a marcar o setor imobiliário em Portugal, sobretudo nos centros das cidades de Lisboa e Porto, Aniceto  Viegas, diretor geral da Avenue, revela ao Jornal Económico que Lisboa é uma cidade cheia de potencial do ponto de vista turístico, habitacional, empresarial e comercial e era lamentável que tantos edifícios históricos estivessem subaproveitados ou abandonados. "Felizmente, nos últimos anos, temos assistido a uma elevada procura por estes edifícios, o que veio potenciar a aposta dos promotores na reabilitação dos mesmos, proporcionando o regresso à cidade. A aposta na reabilitação tornou a cidade de Lisboa cada vez mais atrativa em termos turísticos, criando-se também uma dinâmica interessante entre dois sectores tão distintos", admite.

O responsável adianta que a reabilitação urbana verifica-se essencialmente nos edifícios históricos e especialmente no centro da cidade, edifícios que são muito valorizados pelo potencial comprador. Esta procura reflete-se e evidencia-se pelo facto da venda da maioria destes imóveis ser feita ainda em planta.

Relativamente às críticas que têm surgido nos últimos tempos sobre a renovação do centro de Lisboas para o mercado de luxo, turismo e para os estrangeiros e os preços demasiado altos levando ao afastamento da população lisboeta para fora das zonas históricas, Aniceto  Viegas explica que a reabilitação urbana começou pelo mercado hoteleiro e nos últimos seis anos surgiram cinco mil novos quartos apenas em Lisboa. "Este facto é inegável e muito tem contribuído para a ideia que o centro da cidade está ?reservado' para os estrangeiros e para o turismo".

Apesar disso, o responsável salienta que  o mercado residencial tem vindo a conquistar terreno e são cada vez mais os imóveis que são reabilitados com este fim. No entanto, a oferta continua a ser reduzida, e este aspeto valoriza naturalmente os imóveis que estão disponíveis, a exemplo do que aconteceu com outras cidades a nível europeu. "Ainda assim, curiosa e contrariamente à ideia que só os estrangeiros têm condições para adquirir estes imóveis, no caso da Avenue, 40% dos compradores em Lisboa são nacionais e no caso do Porto, os compradores portugueses são cerca de 95%", garante.

Quanto ao receio da tão falada bolha imobiliária, Aniceto Viegas assegura que o mercado imobiliário português, em linha com a realidade nacional, recuperou grande parte da sua dinâmica. O investimento imobiliário disparou mesmo para níveis históricos, o que fez com que Lisboa já fosse considerada como "cidade-refúgio" para os investidores, tanto nacionais como internacionais. "Este fenómeno tem levantado frequentemente o alerta para o risco de formação de uma bolha especulativa, mas o mercado continua a vender em planta e não a criar stock, ou seja, não há ainda sinais de bolha", admite. Por outro lado, o responsável revela que a oferta continua abaixo dos níveis da procura. Relativamente aos preços de venda, o expectável será uma tendencial estabilização do preço dos imóveis (que continuará contudo a registar algum crescimento), mas que poderá não ser acompanhado de um incremento substancial do mercado de arrendamento, que revela uma dependência direta da economia interna (as rendas tenderão a acompanhar mais a inflação, exceto no que respeita ao arrendamento de curta-duração). "Não será por isso o momento de falar em bolha imobiliária, mas sim da tendencial estabilização da rendibilidade do investimento imobiliário", assegura.

Valorizar os pormenores O diretor geral da Avenue acredita que os seus projetos são diferenciadores porque valorizm  os pormenores e que, no final, são eles que fazem a diferença. Por exemplo, no caso do edifício da Rua António Maria Cardoso, no Chiado, deram-lhe o nome de Orpheu XI porque foi o local onde Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, lançaram a revista Orpheu, em 1915. No Liberdade 203, apostaram fortemente na reabilitação do existente e recuperaram os tectos trabalhados, caixilharias, portadas, escadas originais, guardas e um elevador de época. Outro exemplo, no 266 Liberdade, o emblemático edifício do Diário de Notícias, é a reposição da fachada original do edifício e a recuperação dos painéis do Almada Negreiros, existentes no espaço comercial. Quanto ao alerta de se verificarem escassez de imóveis para reabilitar no centro de Lisboa, Aniceto Viegas é de opinião que é natural que a oferta atual seja inferior à verificada inicialmente. "Ainda assim, Lisboa não se esgota no seu centro histórico pelo que ainda é uma cidade cheia de potencial e de novas zonas e segmentos, nos quais valerá a pena investir. Por outro lado, é importante as cidades terem a capacidade de beneficiar do reconhecimento que é hoje dado ao país, cada vez mais destacado pelas suas qualidades intrínsecas", conclui.

in Diário Economico

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