Geoeconomia do aço

O consumo de aço é, ainda hoje, o melhor indicador do grau de industrialização de uma economia, na medida que é uma das principais matérias intermédias para um grande número de indústrias importantes.

A concentração industrial na China, que alguém apelidou de fábrica do mundo, está bem patente no facto de o país ser o maior produtor mundial de aço. A China fabrica mais de metade de toda a produção mundial de aço e exporta apenas uma pequena parte dessa gigantesca produção.

 

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Esta lista dos quinze maiores produtores de aço é praticamente coincidente com a lista das 15 maires economias do mundo. Havendo contudo três discrepâncias de monta. O Reino Unido, o Canadá e a Austrália são grandes economias e produtores menos significativos de aço, enquanto a Ucrânia, o Irão e a Turquia são médios produtores de aço, apesar de as suas economias serem mais pequenas.

 

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Os primeiros quinze países concentram 94% da produção mundial de aço. O resto é verdadeiramente paisagem. Note-se que quer o Reino Unido quer os EUA mostram uma tendência decrescente da produção de aço, a que corresponde uma desindustrialização, enquanto a China, o Japão, a Alemanha e a Itália continuam com tendência crescente, mantendo um forte empenho na indústria.

Há, como se vê, uma estreita ligação entre produção de aço e desenvolvimento industrial e económico, mesmo na era do digital e da terceirização da economia. Os grandes importadores são os EUA, que importa a astronómica quantia de 49 mil milhões de dólares em aço, logo seguido da Alemanha com 31 mil milhões de dólares e em terceiro a China, a Coreia do Sul, a Tailândia, a Itália e a França. Note-se contudo que a China, embora importando valores significativos, é um exportador líquido de aço.

A política expansionista alemã para a Ucrânia, 10º produtor mundial e 4º exportador mundial, com o patrocínio do golpe de Estado que afastou o Presidente eleito Viktor Yanukovych, pode ser vista como a tentativa de chegar ao aço deste país que exporta valor semelhante às importações alemãs ? 22 milhões de toneladas importadas pela Alemanha contra 25 milhões de toneladas exportadas pela Ucrânia em 2014. Essa tentativa de elevados custos económicos e humanos foi, porém, gorada pela intervenção russa, uma vez que esta produção se concentra a leste em Donestsk e em Lugansk, áreas sob controlo de independentistas pró-russos.

As importações dos países deficitários proveem essencialmente da China, maior exportador mundial, Japão, Coreia do Sul, Ucrânia e Rússia. A Alemanha é também um grande exportador, mas importa mais do que exporta.

Em termos de produtores empresariais o mercado está muito fragmentado, essencialmente porque a China tem uma estrutura produtiva descentralizada em várias grandes empresas. Deste modo, a Arcelor-Mital continua a liderar o mercado mas com uma quota de cerca de 6%. A China, com uma produção de 50% do mercado mundial, tem várias empresas grandes mas a maior surge apenas em segundo lugar no mundo e detém uma quota de apenas 3%. Parece haver espaço no mercado chinês do aço para uma maior concentração empresarial.

Não há empresas europeias na lista das 15 maiores do mundo se excluirmos a Arcelor-Mittal de base indiana mas sediada na Europa e contando com capital europeu.

 

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Por último é significativo verificar que a produção de aço contraiu depois da grande crise de 2008, com recuos importantes em quase todos os países.

Portugal chegou a ter uma produção significativa de aço, mas com a privatização da Siderurgia Nacional a empresa passou para o controlo espanhol da Megasa. Com a passagem para as mãos de estrangeiros a gama de produção restringiu-se e o perfil produtivo aproxima-se hoje da dos países subdesenvolvidos, praticamente restrita ao varão para betão e à chapa galvanizada e a folha-de-flandres.

Eis um setor em que Portugal precisa urgentemente de investimento e que, se não puder ser privado, deve ser público. Sem aço não há desenvolvimento industrial e sem este o progresso económico é insustentável.

in Diário Economico

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