Italexit? Referendo pode colocar a Europa (de novo) em risco

No próximo dia 4, a Itália vai a votos para referendar a proposta do Governo de Matteo Renzi, que pretende acabar com o equilíbrio de poderes entre o Congresso de Deputados e o Senado. No caso de a proposta fracassar, o Movimento Cinco Estrelas pode vir a ascender junto do eleitorado, gerando um terramoto político que colocará a economia da zona euro em risco.

Depois do ?Brexit', o ?Italexit' tem conquistado popularidade nas últimas semanas. Numa Europa que ainda está a digerir o trauma do referendo que deu vitória ao ?Brexit' e as presidenciais norte-americanas que colocaram Donald Trump como novo inquilino da Casa Branca, há já quem preveja que o referendo das próximas semanas possa lançar a Itália num pântano político.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, quer resolver nas urnas a ingovernabilidade crónica de Itália, propondo a diminuição do peso do Senado, de 315 assentos para 100, impossibilitando assim que este órgão governativo vete orçamentos públicos e derrube executivos através da aprovação de moções de censura.

O sistema bicamarário atual foi introduzido logo após a Segunda Guerra Mundial, para garantir que o surgimento de um novo ditador como Benito Mussolini seria travado. Contudo, este sistema político conduziu a que a aprovação de uma proposta de lei ou a sua moção demorasse anos a ser feita, levando à transição interminável das propostas do Senado para o Congresso (e vice-versa), o que dificulta a implementação de reformas em várias áreas importantes para a política económica. Com isto, em 70 anos, a Itália viu nascer 63 governos desde da Implantação da República em 1946.

Inicialmente as sondagens davam vitória às alterações constitucionais propostas de Renzi, que ameaçou demitir-se no caso de estas não virem a ser aprovadas pelos eleitores, mas nas últimas semanas as intenções de voto parecem estar a inverter o sentido e o número de indecisos mantém-se ainda elevado.

O Nobel da Economia, Joseph Stiglitz já se pronunciou sobre o caso dizendo que a Europa está a caminhar para um "evento catastrófico" e insiste que Renzi deve cancelar o referendo para evitar que este assuma proporções incontroláveis, como o que está ainda por calcular em relação à saída do Reino Unido da União Europeia, hipótese que foi rapidamente descartada pelo primeiro-ministro italiano.

A situação instável em Itália e a eventual queda por terra da proposta de Renzi ameaça beneficiar o partido anti-Europa do comediante Beppe Grillo, o Movimento Cinco Estrelas, que garante que a prioridade será fazer um referendo em relação à permanência de Itália na zona euro.

A terceira maior economia da Europa tem apresentado um crescimento ligeiro ? apenas 0,7% em 2015, cerca de metade do registado em Portugal em igual período ? e entre os italianos começasse a apontar o dedo ao euro como causador da situação económica ténue.

No entanto, segundo o editor de economia do Financial Times, Wolfgang Münchau, "uma saída da zona euro por parte de Itália levaria ao colapso total da união monetária num período de tempo muito curto. O que levaria, provavelmente, ao choque económico mais violento da História, maior do que a bancarrota do Lehman Brothers em 2008 e do que o crash de 1929 em Wall Street". É caso para dizer que a terra pode voltar a tremer em Itália e desta vez pode arrastar consigo toda a comunidade de países pertencentes à união monetária.

in Diário Economico

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