"Digitalização abre a porta a novas e interessantes oportunidades"

LMEm entrevista ao Construir, o director-geral da divisão de Building Technologies daSiemens em Portugal explica que os clientes da empresa esperam "lucrar mais com os dados que os seus edifícios produzem" e que as oportunidades criadas pela digitalização ganham cada vez mais importância. Segundo Luís Mourato, assistir-se-á a um "elevado ritmo" de inovação no mercado das casas inteligentes

Como descreve o sector onde a divisão de Building Technologies (BT) opera, tendo em conta a sua dimensão e a concorrência global? Na sua opinião qual é a tendência de evolução do mercado?

Actualmente, o mercado da divisão BT da Siemens ascende globalmente a cerca de 60 milhões de euros e inclui as áreas de automação de edifícios, eficiência energética de edifícios, protecção contra incêndios, energia e sistemas de segurança. Estamos a assistir, por um lado, a uma tendência de consolidação contínua do mercado da construção que é acompanhada por outra tendência de alargar os portfólios de modo a cobrir todas as disciplinas relacionadas com os edifícios. A BT já oferece uma vasta gama de soluções globais para edifícios. Além disso, as parcerias, por exemplo, entre integradores de sistemas e empresas de tecnologias de informação para aproveitar as oportunidades criadas pela digitalização, estão a ganhar cada vez mais importância.

Qual é o tipo de tecnologia mais procurada pelos clientes da Siemens?

Face às grandes tendências de transição para a digitalização, os requisitos dos nossos clientes também se alteram. Ou seja, os nossos clientes esperam lucrar mais com os dados que os seus edifícios produzem. Para a BT, a digitalização abre a porta a novas e interessantes oportunidades. Estamos a utilizar o volume cada vez maior de dados, sobretudo na área da prestação de serviços digitais, para fins de manutenção preventiva e preditiva, aplicando processos de análise avançados ? por exemplo, diagnósticos de detecção de falhas.

Quais são as tendências actuais de I&D neste sector?

As futuras actividades de inovação centrar-se-ão em novos serviços digitais, soluções de software em nuvem combinadas com novos modelos de negócios e automatização melhorada digitalmente (graças a sistemas abertos e dispositivos inteligentes). A longo prazo, a inteligência passará para o terreno e para a nuvem. Iremos assistir a um elevado ritmo de inovação no mercado das casas inteligentes, que beneficiará também os mercados comerciais.

A sustentabilidade, a produção de energia e a eficiência energética estão cada vez mais importantes neste sector? Os clientes da Siemens consideram estes factores?

Actualmente verifica-se uma tendência rumo à gestão de desempenho dos edifícios, que engloba a eficiência energética e a sustentabilidade dos edifícios. Os sistemas de energia distribuídos ? por exemplo, a integração de sistemas fotovoltaicos, soluções de armazenamento de energia, a produção combinada de energia térmica e eléctrica ? estão gradualmente a substituir a produção central de energia, tornando-se cada vez mais importantes para os projectos de eficiência energética. Assim, também as funcionalidades de gestão de energia nos sistemas de gestão de edifícios desempenham um papel cada vez mais significante.

Qual a importância do mercado português para a divisão de Building Technologies da Siemens?

É certamente importante. O mercado português oferece uma série de oportunidades muito interessantes. A infra-estrutura existente precisa de ser modernizada, em parte, porque as estruturas estão envelhecidas, mas também porque os utilizadores dos edifícios e a sociedade em si o exigem. Acresce ainda que há necessidade de melhorar os sistemas de protecção e de segurança, aumentar o nível de conforto ou reduzir custos. A digitalização também está a entrar nas empresas portuguesas, e as novas tecnologias digitais aplicadas aos edifícios estão a tornar-se cada vez mais atraentes. Esta tendência criará certamente muitas novas oportunidades. A Siemens dispõe de soluções avançadas como a plataforma transversal de controlo de edifícios Desigo CC (para sistemas de segurança e de conforto ambiental) ou ainda a plataforma Navigator, para implementação de eficiência energética.

O conceito da "Cidade Inteligente" está cada vez mais popular. Como vê a sua evolução? Com base na sua experiência, acha que é algo alcançável num futuro próximo?

Nos próximos anos, as comunidades urbanas enfrentarão um crescimento explosivo, não só em termos de população, mas também em termos de dimensão geográfica e de rendimento económico. Sendo as cidades já responsáveis por cerca de 80% do produto interno bruto global, não pode haver dúvidas de que serão a espinha dorsal tanto para o crescimento económico como para a prosperidade futura. O nosso objectivo é ajudar as cidades a evoluir e muni-las de estratégias e ferramentas que garantam a sua transformação em pólos sociais, culturais e económicos. Para além dos sistemas de gestão de videovigilância Siveillance e de notificação em situações de emergência Desigo Mass Notification, que estão concebidos não só para edifícios mas também para espaços públicos, dispomos ainda da ferramenta CyPT, destinada ao diagnóstico das várias vertentes de desenvolvimento das cidades (energia, transportes, ambiente, etc) e identificação de estratégias de melhoria.

Como é que a divisão BT da Siemens pode ajudar a transformar as cidades em "Cidades Inteligentes"?

A BT considera que o seu principal contributo está na implementação de sistemas para edifícios que os tornem mais "inteligentes", nos contributos resultantes das soluções referidas na resposta anterior e no desenvolvimento de soluções de produção de energia descentralizada, incluindo novas funcionalidades de gestão de energia que permitem aos edifícios interagir com a rede inteligente e utilizar algoritmos para optimizar a gestão de picos de cargas e a produção e o armazenamento de energia. Juntamente com a divisão Energy Management da Siemens, a BT está a desenvolver o projecto Seedstadt Aspern, em Viena, Áustria. Trata-se de criar uma cidade inteligente que utiliza o estado da arte da tecnologia de edifícios para eficiência energética.

Receitas aumentam 5%

As encomendas e a facturação da Siemens aumentaram 5% este ano, face ao ano fiscal de 2015, cifrando-se nos 86,5 mil milhões de euros e 79,6 mil milhões de euros, respectivamente. O grupo reportou também um resultado líquido de 5,6 mil milhões de euros, valor que "reflecte a forte performance operacional" do grupo alemão, que registou também fortes aumentos nas divisões de Power and Gas, Energy Management, e Wind Power and Renewables. Joe Kaeser, presidente e CEO da Siemens AG, explicou que o ano fiscal que agora terminou "foi um dos mais fortes da história da nossa empresa". "Colocando de lado os desinvestimentos do portfólio, foi realmente um dos melhores", continuou Kaeser. "Trabalhámos árduamente e estou orgulhoso daquilo que a nossa equipa global alcançou", acrescentou o responsável da Siemens, prometendo que, no próximo ano fiscal, a empresa continuará "a trabalhar com total concentração na execução do [programa] Vision 2020".

in Construir

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