Açores: AIR Center

O assunto abordado prende-se, sem dúvida, com o ambiente vivido nestes últimos dias em Lisboa. E decorre no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, onde o ministro Manuel Heitor é, sem dúvida, um homem experimentado nestas matérias. Foi Secretário da Ciência com Mariano Gago e já aí deixou, embora de forma discreta, a sua pegada. Como Professor do Técnico também nunca andou arredado destas áreas e até granjeou algum protagonismo.

Fico com a sensação, embora não domine por dentro a questão ? apenas tenho lido atentamente o que vem na comunicação social ?, que tem linhas bem definidas, sabe para onde pretende ir numa perspectiva de país, o que é muito positivo. Em muitos outros casos e vezes demais, deparámo-nos com alguma nebulosidade de rumo.

Tudo isto vem a propósito do Centro de Investigação Internacional dos Açores (AIR Center, sigla em inglês). O que é este Centro? Segundo li numa entrevista recente de Manuel Heitor, este Centro "resulta de uma reflexão, com alguns anos, sobre o posicionamento único e estratégico de Portugal no Atlântico e em relação ao que os Açores hoje representam como laboratório natural. Hoje, com a rede de investigação sobre ciências do mar e a interação com o espaço, temos capacidade científica e tecnológica nestas áreas".

A partir desta constatação/reflexão, o ministro tem preconizado a abertura de um processo negocial (já em marcha) com os EUA, depois com a Europa, o Brasil e ainda com África, no sentido de reforçar "a rede de investigação entre países de base atlântica" e, na qual, os Açores podem vir a desempenhar, em caso de sucesso, um papel determinante, um papel muito importante em termos do seu desenvolvimento.

Os Açores reúnem condições para serem a base do Centro de Investigação porque dispõem de uma posição estratégica única de "acesso ao mar profundo". Manuel Heitor especifica ainda melhor os contornos do problema. Como a ciência hoje se faz em rede ? diz o Ministro ?, isto significa que é preciso criar uma rede com diferentes instituições e investigadores em diversas partes do Globo, mas "a coleção de dados recolhidos e as experiências têm de ser feitas nos Açores".

Aqui está bem identificado o papel que os Açores são chamados a ter neste projecto já em andamento. Os Açores, por seu lado, estão também muito empenhados e esperançosos em que este projecto siga em frente e se fortaleça.

O secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, Fausto Brito e Abreu, não deixa de dar a maior atenção ao projecto e de reconhecer que está em marcha, graças ao grande trabalho diplomático do ministro, que se articulou com Ernest Moniz, Secretário de Estado norte-americano da Energia, de origem açoriana. Agora, com este resultado eleitoral nos EUA não sei se algum ruído será introduzido neste processo que parecia estar a rolar bem.

Neste projecto entra ainda a Fundação para a Ciência e Tecnologia que, sob a orientação do ministro, tem andado a apresentá-lo em diversas instâncias, Nova Iorque, Bruxelas, Paris, etc. É interessante este périplo no sentido de captar parceiros para criar a tal rede.

Em Bruxelas é fundamental motivar e captar o comissário Carlos Moedas, pois é ele que, ao nível comunitário, tem a inovação e os financiamentos, uma componente sem dúvida muito importante.

O ministro, confrontado se este projecto vem substituir o "abandono" da base das Lages na ilha Terceira pelos americanos, responde que se trata de um projecto diferente na área da Ciência e Inovação. Poderá haver cruzamentos mas situa-se noutro paralelo.

Mais concretamente este projecto visa o quê? Está em sedimentação, mas hoje em dia, para além de outras valências, há uma dinâmica na área dos satélites que aponta para grande impacto na área dos negócios. Tende-se, no futuro, para a existência de vários locais de lançamento de satélites a baixo custo. Quem se apetrechar com investimentos nestes domínios e reunir condições de competitividade é expectável que venha a ter um bom futuro pela frente.

Os Açores já dispõem de várias infra-estruturas praticamente em todas as ilhas, que podem ser melhor articuladas e ligar-se a entidades de outros países e do próprio país e concorre para que possa vir a segurar a base espacial da União Europeia no seu território. Neste contexto, há que demonstrar que se tem capacidade para reunir condições concorrenciais intransponíveis. Sobre a localização é imbatível, parece ser uma opinião bastante unânime. Falta então reunir as restantes condições, o "software"/conhecimento.

Como ilhéu fico na expectativa do sucesso deste projecto. Tenho pena de que, como madeirense que sou, não sobre nada para a minha região. Penso que o Porto Santo, e bem precisa, poderia ser integrado minimamente num projecto de futuro desta natureza. Aliás, hoje não é a distância física que conta e menos ainda em projectos deste teor. Será que a Madeira e o Porto Santo nada têm para oferecer?!

O autor escreve segundo a antiga ortografia.

in Diário Economico

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