Donald é Trump

Depois de uma campanha presidencial, digamos, animada, o senhor Donald Trump ganhou as eleições americanas. Terá sido uma surpresa para toda a gente que acredita em sondagens. Se Disraeli dizia que havia três tipos de mentiras, as mentiras, as malditas mentiras e as estatísticas, hoje em dia temos que acrescentar as sondagens, as malditas sondagens, as sondagens compradas e as sondagens aldrabadas. Faz sete, mais de metade é sondagens.

A grande interrogação dos americanos e do mundo inteiro, agora, não é o que vai acontecer às empresas de sondagens. Elas vão provavelmente fazer uma sondagem que provará que as pessoas continuam a acreditar nas sondagens. É, sim, o que vai fazer o Presidente Trump. Isto porque não está provado que será o que prometeu o candidato Trump: qualquer estudante de medicina confirmará que Trump tem todos os sintomas de separação de personalidades, aliás como se viu no discurso de vitória do Presidente Trump, quando se referiu a Hillary Clinton, e que foi o contrário do que o candidato Trump disse na campanha.

Isto torna o Presidente Trump uma pessoa muito mais agradável, interessante e até simpática do que o candidato Trump, o que só por si constitui uma vantagem da sua eleição. Teofranto, o sucessor de Aristóteles na Escola Peripatética, ficaria entusiasmado em poder estudar o candidato Trump ? no século IV a.C. ele classificou as personalidades dos atenienses em 30 tipos diferentes, incluindo "arrogante", "grosseiro" e "prepotente". O candidato Trump acrescentaria uma nova categoria, o "all of the above".

Seguir o Presidente Trump nos próximos anos vai ser muito interessante, porque ninguém é capaz de adivinhar o que ele vai fazer. Consta que há muitos casinos chineses que estão a jogar nisto e que as casas de apostas britânicas já estão a fazer rios de dinheiro.

Antecipar o que faria o candidato Trump como presidente, pelo contrário, seria demasiado previsível: dar um bolo com uma lima dentro a Hillary Clinton, para ela usar depois de ele a mandar prender; passar um certificado de nascimento nos EUA a Obama; oferecer uns tampões para os ouvidos a Ted Cruz para Trump poder dizer o que sabe sobre a mulher dele; dar uma trela a Gay Collins, de quem disse que tinha cara de cão; oferecer uma caixa de tampões a Megyn Kelly para a próxima vez que ela tiver que fazer entrevistas enquanto está no período; inscrever Kay Tur num curso de comunicação social, para que ela deixe de ser uma repórter de terceira classe; e muitas outras coisas aborrecidas, algumas com Putin.

Mas para quem gosta de adivinhas, a mãe de todas é como conseguiu ele ganhar as eleições, quando teve muito menos votos que Clinton. Não acreditem que foi pelas promessas que fez, como a construção do muro com o México, que lhe deu os votos dos empresários e trabalhadores da construção civil. O verdadeiro segredo da sua eleição é que teve um par de consultores portugueses a apoiá-lo.

 

Nota biográfica: Hemp Lastru (n. 1954, em Praga) é sobrinho neto de Franz Kafka. Democrata convicto, activista e lutador político, é preso várias vezes pela polícia secreta checoslovaca, tendo sido sentenciado em 1985 ao corte de uma orelha sob a acusação de "escutar às portas". Abandona a política em 1999, deixando Praga para residir em Espanha. Mudou-se para Portugal em 2005 porque "gostaria de viver num país onde os processos são como descrevia o meu tio-avô nos livros."

 

 

 

in Diário Economico

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