Estado Empreendedor

Há perguntas que a discussão do novo OE nos impõe, mas que vão muito para além dele. Porque razão a nossa economia está estagnada há tanto tempo? Porque razão estamos confrontados com níveis de crescimento anémico, na ordem de 1%?

Há certamente muitas razões e os economistas de diversas escolas de pensamento económico, desde os mais liberais aos mais keynesianos, têm-se ocupado dessa discussão, mas muito basicamente acho que todos concordarão que há um problema com o nosso paradigma económico.

A solução passa assim por apostar numa mudança de paradigma. A verdade é que não podemos continuar a ter um país cuja economia assenta na mão de obra indiferenciada e nos baixos salários. É preciso construir uma economia de valor acrescentado, assente na inovação e na mão de obra qualificada e bem remunerada.

Para isso, julgo que é necessário desconstruir um conjunto de mitos. Um desses mitos tem a ver com a ideia de que toda a inovação vem dos privados e que o Estado é um peso e um estorvo para a economia. É uma ideia falsa. O Estado pode ser, e em muitos casos tem sido, noutros países, o grande indutor da inovação.

A razão porque empresas alemãs, como a Siemens, por exemplo, ganham contratos por todo o mundo, é porque fazem parte de um ecossistema de inovação que foi fortemente apoiado pelo Estado, que investiu diretamente em todo o tipo de áreas que aumentam a produtividade e a inovação, designadamente através de um banco público, o KFW, que é um dos maiores investidores mundiais nas áreas inovadoras, como por exemplo as tecnologias verdes.

Nos EUA, por exemplo, foi o Estado que criou condições para o desenvolvimento de gigantes da indústria americana, como a Apple e a Google, que beneficiaram de investimento de risco, de bolsas de investigação e do apoio de programas estatais. O iPhone que é um icone da indústria tecnológica americana e um produto que incorpora muita tecnologia que foi desenvolvida através de financiamento público. Alguns dos principais ?assets' que fazem do iPhone um produto "inteligente" e de alto valor acrescentado foram desenvolvidos com dinheiros públicos, designadamente a Internet, o GPS, o ecrã tátil ou o Siri.

A Tesla, por exemplo, que é uma empresa pioneira da mobilidade elétrica e que neste momento está a desenvolver os célebres carros sem condutor, recebeu o ano passado um empréstimo de 464 milhões de dólares garantido pelo Governo dos EUA. Isto na Meca do Capitalismo.

Outro grande problema da economia portuguesa é que não temos marcas globais. A Suécia tem o IKEA, a Espanha tem a Zara e o Santander, a Suíça tem a Nestlé, a Dinamarca tem a Lego. E refiro apenas países com os quais Portugal se devia poder comparar.

Portugal precisa urgentemente de apostar em novos ?clusters' e em novas cadeias de valor em áreas tecnologicamente avançadas como por exemplo: a Aeronáutica, a Mobilidade Elétrica, as Eólicas, a Biotecnologia, as TIC e a Nanotecnologia.

Temos de ter uma Estratégia de médio/longo prazo. Temos de saber onde queremos que o país esteja daqui a 10/20 anos. Temos de ter a ambição de colocar homens na Lua.

Esta estratégia tem obrigatoriamente de assentar num Estado Empreendedor. Isto é, um Estado que aposta na inovação como caminho para a competitividade e para um crescimento que beneficiem não apenas alguns mas o conjunto da sociedade.

in Diário Economico

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