Geoeconomia do lítio, o novo petróleo

O telemóvel, os computadores e uma série cada vez maior de aparelhos portáteis obtém a energia de que necessita para operar baterias. As tradicionais pilhas de níquel e de níquel-cádmio, que equipavam os rádios e aparelhagens transportáveis, estão a ser sistematicamente substituídas por baterias recarregáveis de lítio. A vantagem destas últimas é a sua maior capacidade de armazenamento de energia e grande facilidade de recarga.

Outro benefício destas baterias é que não contêm materiais perigosos como os que se encontram nas pilhas tradicionais de chumbo e de cádmio, ambos materiais extremamente perigosos e venenosos. As pilhas de lítio não são classificadas como lixo perigoso, podendo ser incineradas ou depositadas sem problemas de toxicidade.

Embora a descoberta da possibilidade de armazenamento de energia em baterias de iões de lítio (LIB) date do início do século XX, foram precisos 90 anos para que a primeira pilha comercial surgisse no mercado pela mão da Sony, já na última década do século. Desde então, uma grande profusão de baterias deste tipo tem inundado o mercado, quer sejam baseadas em lítio e cobalto, quer em lítio e fosfato de ferro ou mesmo iões de lítio e oxido de manganês.

Uma nova geração de carros elétricos que está a chegar ao mercado vem equipada com baterias de lítio. O lítio perfila-se como um metal estratégico para toda uma variedade de indústrias e pode vir a desempenhar o papel que o petróleo teve, e ainda tem, na revolução do carro que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. A Goldman Sachs chamou ao lítio a "nova gasolina".

A produção de lítio foi durante muitos anos controlada por um pequeno oligopólio de três companhias: a Rockwood Lithium, a Sociedade Química y Minera de Chile (SQM) e a FMC Lithium, as três dominadas por capital americano.

Em 2014 a Rockwell mantinha-se como a maior companhia com 22% do mercado, em segundo lugar surge a chilena SQM com 21% e a FMC controla 10%. Nas mãos das três tradicionais concentra-se mais de 50% da produção mundial, o suficiente para controlar preços e quantidades produzidas. Em 2015, a Albemarle comprou a Rockwell aumentando ainda mais a sua posição cimeira.

Com a crescente procura de lítio e a sua maior centralidade como matéria-prima cada vez mais estratégica, outros atores têm vindo a entrar no mercado. Assim, a par das empresas tradicionais, surgem agora empresas chinesas apostadas em explorar este mineral de alto valor. A Ganfeng detém já 12% do mercado e a Sichuan Tianqi Lithium 10%. A República Popular da China, em conjunto, conquistou uma quota de cerca de 40% do mercado de lítio. Hoje, americanos, chilenos e chineses dominam totalmente a produção.

No entanto, estas empresas não atuam somente nos seus países de origem. De facto, o país com maior produção é a Austrália, aí explorada por uma ?joint-venture' sino-americana; o segundo maior é o Chile e o terceiro a Argentina, onde a exploração é feita pelos americanos da FMC; em quarto surge a China e em quinto o Zimbabué.

Portugal ocupa o 6º lugar com uma produção de 300 MT, sendo o maior produtor europeu. O maior produtor nacional é a Felmica, empresa do grupo Mota. Mas importa perguntar se há uma estratégia para a exploração deste mineral tão procurado. Aparentemente, o país alheia-se das suas riquezas minerais.

Portugal deve preparar-se para o cenário, muito provável, em que os carros elétricos rapidamente substituam os carros a gasóleo/gasolina. Não só será necessário dotar o país de uma rede de abastecimento, como saber se queremos produzir baterias ou se preferimos substituir as importações de petróleo por importações, provavelmente mais caras, de baterias de lítio. Se optarmos pela compra, provavelmente exportaremos lítio explorado por estrangeiros, e importaremos as baterias, o que não deixaria de ser um enorme desperdício de um recurso estratégico de grande valor.

in Diário Economico

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