Opinião: Portugal, o crédito à habitação e o futuro do Turismo

SérgioPereira-diretorgeralComparaJá.ptDurante anos, o crédito à habitação foi ocupando uma fatia cada vez maior da economia nacional e das finanças pessoais dos portugueses. Com o mercado em crescendo, foi-se pedindo crédito para adquirir casas novas e, não raras vezes, para comprar uma segunda habitação enquanto investimento a ser rentabilizado através do aluguer. Contudo, chegou-se ao ponto em que, com a crise, também esta modalidade de financiamento esfriou.

Durante os anos de vigência da Troika, houve uma natural desalavancagem da economia e o crédito à habitação não foi exceção. Se em 2010 – segundo dados do Banco de Portugal – foram atribuídos 2.476 milhões nesta modalidade de crédito, em 2013 o número desceu para 447 milhões. Contudo, em sintonia com a recuperação da economia também o crédito à habitação tem experienciado uma evolução positiva. Em 2014 o montante atribuído já subia para 500 milhões e em 2015 o aumento acentuou-se para 715 milhões. Ainda longe dos números de outros tempos, mas mesmo assim uma melhoria.

E, com o fim (ou o aligeirar) da crise económica e financeira que Portugal atravessou, é de prever que a concessão deste tipo de crédito siga uma trajetória positiva. O mercado do crédito à habitação está, sem dúvida, a aquecer. Os "sintomas" do crescimento do crédito bancário para a compra de habitação estão aí. Não só a economia começa a crescer, mas outro fator importante também vem influenciado este "outcome": o enorme crescimento do turismo. Este fator tem vindo a impactar sobretudo as grandes cidades, conduzindo à procura crescente por habitação. Em Lisboa, por exemplo, os dados mostram que esta tendência está em ascensão.

Segundo uma análise da consultora Mercer, no seu estudo (Custo de Vida de 2016), Lisboa passou de 145º lugar em 2015 para 134º em 2016. Grande parte da "responsabilidade" destas subidas podem ser apontadas ao aumento das rendas. Entre junho e agosto deste ano, só na plataforma Airbnb houve 750.000 turistas a alugar quartos e casas em Portugal. Desde 2014, o número de habitações registadas nesta plataforma mais do que triplicou passando de 10 mil casas para mais de 30 mil.

Podemos afirmar, face a isto, que a crescente tendência a nível internacional de considerar Portugal como um destino turístico "na moda" vai ter um impacto cada vez mais substancial no mercado habitacional. Nesse sentido, os diferentes agentes económicos devem ficar de sobreaviso, nomeadamente os bancos, que devem ter atenção redobrada para não arcarem com o peso de eventual crédito malparado fruto de investimentos menos ponderados.

Claro que não podemos ignorar que a economia é um sistema complexo e interligado e o crédito à habitação é um importante indicador da sua vitalidade. É um setor que faz mexer várias áreas, desde construtoras a fundos de investimento imobiliário, escritórios de arquitetura e todas as outras ramificações que vão ganhando dinâmica à medida que o crédito à habitação também mexe. No final do dia, tal significa mais empregos, mais competitividade e uma economia mais dinâmica. Saímos todos a ganhar.

É, portanto, fundamental que exista um endividamento para a habitação mais consciente e informado. Em linha com esta premissa surgem os resultados do inquérito feito em 2015 pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, o qual demonstrou que apenas 21,4% dos inquiridos sabiam o significado de spread, enquanto apenas 10,5% sabiam o que queria dizer EURIBOR. Fica bem explícito que ainda há muito caminho a ser percorrido na melhoria da literacia financeira dos cidadãos portugueses nestas matérias relacionadas com o crédito à habitação?

Felizmente, com todo o mundo de portais informativos e simuladores de produtos financeiros online, os conhecimentos da população nacional podem sair fortalecidos nestas matérias. Ainda assim, só com o envolvimento de toda a sociedade – dos decisores políticos aos gestores bancários, passando pelas associações de apoio ao consumidor até plataformas financeiras online – será possível assegurar que no futuro teremos uma economia forte e sustentável.

Sérgio Pereira, diretor geral da plataforma gratuita de simulação de produtos financeiros ComparaJá.pt

in Construir

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