Opinião: “Pensar Grande”

30-nunomalheiro.jpgEscrevo no rescaldo do jogo dos oitavos de final do Europeu 2016 entre Portugal e a Croácia em que a selecção portuguesa acabou por sair vitoriosa, conseguindo o apuramento para os quartos de final da prova após um golo nos últimos minutos do prolongamento.

Uma vitória justa, mas que não fez apagar da memória os últimos minutos do jogo anterior, quando a equipa portuguesa parecia estar satisfeita com um empate que lhe garantia a passagem à fase seguinte, considerando o resultado que se registava no outro jogo do grupo (Islândia – Áustria).

Para uma equipa liderada por um treinador que tem afirmado que o objectivo é ganhar o campeonato, ver o colectivo contentar-se com um empate que na melhor das hipóteses lhe daria o segundo lugar do grupo, "arrastando os pés" até ao toque do apito final, deixou-me desanimado. Com tantos jovens portugueses a assistir ao jogo, ver os seus "heróis" dar um exemplo de falta de ambição, fez-me pensar noutras situações que nos diferenciam de outros povos, mas que, apesar de tudo e felizmente, também nos distanciam dessa atitude própria de perdedores e conformados.

Nós, portugueses, apesar de sermos poucos ? 0,16% da população mundial ? temos inúmeros exemplos de indivíduos e empresas nacionais que são os melhores do mundo.

Então se assim é, a pergunta que surge ao ver a nossa seleção de futebol em campo é a seguinte: o suficiente chega? Não pode chegar. Temos de pensar grande, definir grandes objectivos e lutar por eles para que os consigamos alcançar.

Por ser assim, Portugal e os portugueses – todos, cidadãos, empresários e governantes – não podemos continuar distraídos com comissões parlamentares de inquérito aos bancos, envoltos numa constante luta partidária cujo sentido ninguém percebe e cujo retorno para a economia real é zero.

É verdade que, por vezes – sobretudo perante a falta de resultados económicos expressivos -, também se torna difícil explicar aos nossos jovens na "era pós-Troika" a necessidade de prosseguir com o esforço dos últimos anos que deixou marcas negativas profundas na sociedade e no tecido empresarial português, mas melhorou as exportações, reduziu o défice orçamental e restaurou alguma da credibilidade perdida pelo nosso país. Julgo que a mensagem deve passar por uma lição de persistência. Não há vergonha em não conseguir quando o esforço colocado em alcançar um objetivo definido foi o máximo possível, sobretudo quando o desafio proposto é grande. Vergonha deve haver em nem sequer tentar.

É incontestável que temos um mercado reduzido em Portugal para criarmos grandes empresas que possam competir no mercado global com outras empresas de outros países que, tendo mercados internos maiores e mais dinâmicos, partem de uma posição de vantagem. Mas se pensarmos "pequeno" nunca conseguiremos.

Foi esse "pensar pequeno" que vi na equipa portuguesa que jogou em França contra a Hungria. Quando estava em desvantagem no marcador lutou para marcar, mas quando se viu com o apuramento (aparentemente) garantido, agiu como se o esforço até ali já fosse suficiente. Nessa equipa estão alguns dos melhores jogadores do mundo, muitos dos quais a atuar fora de Portugal. Nos seus clubes adoptam uma postura de jogar para ganhar. Do mesmo modo, temos inúmeras empresas portuguesas que, procurando "pensar grande", e não deixando de acreditar em Portugal partiram para outros países tentando mais e melhores oportunidades, acabando muitas por se destacar e por serem reconhecidas pela sua qualidade.

Em vez de pensar que é suficiente lamentar os resultados (tímidos ainda, é certo) da recuperação económica registados no final da última legislatura – a fazer lembrar os golos que não marcámos na fase eliminatória do Europeu de futebol – e esperar que as medidas de recuperação e reforço da economia do Governo atuem por si só, como que por um qualquer "passe (futebolístico) de magia", devemos unir esforços como uma "verdadeira equipa", ajudados por um Presidente da República que tem demonstrado "vestir a camisola nacional", e persistir na vontade de dar a volta ao resultado, sem esperar pelo último minuto.

Aqui chegados, reformulo a pergunta feita acima: como é que um povo como o nosso, que conseguiu dar novos mundos ao mundo, se contenta com o suficiente? A resposta é que esses (os dignos lutadores) partiram e só ficaram cá os que não foram. Actualmente, neste mundo globalizado, é mais simples. Temos de pensar grande.

 

Nuno Malheiro da Silva, Arquitecto

Presidente do FOCUS GROUP

nuno.malheiro@focusgroup.eu

in Construir

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