Investigadores da UCLA querem substituir cimento por dióxido de carbono na produção de betão

Innovuspremium_betaoUma equipa de investigadores da University of California Los Angeles (UCLA) está a desenvolver uma solução para capturar o carbono libertado pelas chaminés das centrais energéticas, utilizando-o para criar um novo tipo de betão ? CO2NCRETE ? que seria fabricado através de impressoras 3D.

Segundo o comunicado desta universidade norte-americana, a produção de cimento é uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito de estufa ? cerca de 5% do total das emissões de gases de efeito de estufa no planeta surgem da produção de betão. A universidade destaca ainda que uma fonte ainda maior de emissões de dióxido de carbono são as chaminés das centrais de produção de energia – "a maior fonte de gases de efeito de estufa do mundo".

"O que esta tecnologia faz é usar algo que vemos como um incómodo ? o dióxido de carbono emitido pelas chaminés ? e transformá-lo em algo valioso", afirmou JR DeShazo, docente da UCLA. Segundo este investigador, a inovação em que a equipa se encontra a trabalhar "aplaca as alterações climáticas, que é um dos maiores desafios que a sociedade enfrenta actualmente e que irá enfrentar ao longo do próximo século".

DeShaze é responsável pelas linhas orientadoras económicas e de políticas públicas nesta pesquisa. As contribuições científicas são lideradas por Gaurav Saant e Henry Samuell Fellow, nas áreas de engenharia civil e ambiental, Richard Kaner, nas áreas de química, bioquímica e de engenharia e ciência de materiais, Laurent Pilon, na área de engenharia mecânica e aerospacial e bio-engenharia, e Matthieu Bauchy.

A UCLA frisa que esta não é a primeira tentativa para capturar as emissões de carbono das centrais energéticas e explica que, embora isto já tenha sido feito anteriormente, o desafio consiste em saber o que fazer com o dióxido de carbono uma vez capturado.

"Esperamos não apenas capturar mais gás, mas vamos pegar nesse gás e, em vez de o armazenar, que é a abordagem actual, vamos tentar utilizá-lo para criar um novo tipo de material de construção que irá substituir o cimento", afirmou DeShazo.

Por sua vez, Gaurav Sant explicou que a abordagem que a equipa propõe é que se olhe para o dióxido de carbono como "um recurso que se pode reutilizar". "Enquanto a produção de cimento resulta em dióxido de carbono, tal como a produção de carvão ou de gás natural, se pudermos reutilizar o CO2 para criar um material de construção que seria um novo tipo de cimento, isso seria uma oportunidade", ressalvou o professor.

Embora entusiasmados com a hipótese de reduzirem as emissões de gases de efeito de estufa nos Estados Unidos, especialmente em regiões onde centrais alimentadas a carvão são abundantes, os investigadores estão mais expectantes com a hipótese de reduzir estas emissões na China e na Índia. "A China é actualmente o maior produtor de gases de efeito de estufa no mundo e a Índia será brevemente o número dois, ultrapassando-nos", referiu DeShazo.

Até agora, este novo material de construção foi apenas produzido a uma escala de laboratório, com recurso a impressoras 3D que o moldam em pequenos cones. "Temos a prova de conceito em como podemos fazer isto, mas precisamos de iniciar o processo de aumentar o volume de material e depois pensar em como "pilotá-lo" de forma comercial", continuou o investigador, referindo que "é uma coisa testar estas tecnologias no laboratório" e que é outra "levá-los para o terreno e ver como funcionam sob as condições do mundo real".

"Podemos mostrar um processo onde agarramos em cal e combinamo-lo com dióxido de carbono para produzir um material tipo cimento", afirmou Sant, explicando que, neste contexto, o "grande desafio que prevemos com isto é que não estamos apenas a tentar desenvolver um novo material. Estamos a tentar desenvolver uma solução de processo, uma tecnologia integrada que vai de CO2 directamente para um produto finalizado".

O docente universitário explica que a impressão em 3D é feito há algum tempo na área biomédica e, neste ambiente, o que interessa é a resolução, "a precisão". "Na construção, estas coisas são importantes mas não na mesma escala. Existe o desafio de escala porque, em vez de imprimirmos algo com o comprimento de 5 centímetros, queremos ser capazes de imprimir uma viga com 5 metros", referiu.

Por outro lado, existe também o desafio de convencer os "stakeholders" que uma mudança "cósmica" como a que os investigadores estão a propor é benéfica, "não apenas para o planeta, mas também para eles".

Assim, os responsáveis por esta pesquisa acreditam que "esta tecnologia poderia alterar os incentivos económicos associadas com estas centrais energéticas nas suas operações e transformar os gases das chaminés num recurso que os países poderão utilizar, para construir as suas cidades, expandir as suas redes rodoviárias". Segundo DeShazo, esta proposta "agarra no que era um problema e transforma-o num benefício em produtos e serviços que serão muito necessitados e valorizados em locais como a Índia e a China".

in Construir

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