“Portugal Cem Ruínas” dá voz a edifícios e monumentos em estado de degradação

CasadoProfessorouQuintadoParreira-O.deAzeme?isA Fundação Manuel António da Mota (Mercado do Bom Sucesso – Porto), tem patente até ao próximo dia 14 de Abril, uma exposição que resulta do projecto Ruin'Arte, que tem como missão dar voz a muitos edifícios e monumentos em avançado estado de degradação e que deveriam ser preservados em nome da conservação do nosso património e do interesse nacional.

"Portugal Cem Ruínas" mostra a realidade de algum do edificado português, representativo do património de arquitectura eclesiástica, industrial, militar, palaciana, urbana, veraneia e vernacular, pela lente do fotógrafo Gastão de Brito e Silva, que se associou ao projecto.

Segundo o autor, estima-se que 1/3 de Portugal esteja abandonado e em ruínas, com 1 milhão de edifícios. No centro da cidade do Porto deverão estar abandonados 600 dos 1800 edifícios, o que equivale a 33%.

Ao Construir, Gastão de Brito e Silva não conseguiu enunciar os edifícios que mais o marcaram pelo seu abandon, "na medida em que cada edifício, quer pelo seu tipo, quer pela cronologia tem a sua importância, além de ser certamente injusto para com as todas as outras ruínas com que me tenho deparado referir apenas uma de cada tipo". Contudo e separando por categorias patentes na exposição, o fotógrafo avança para, no património militar, a Torre das Águias, em Brotas. "É uma das mais belas, históricas e ricas ruínas que algum dia encontrei, pela raridade arquitectónica e por toda a envolvência, é sem dúvida uma das colocaria nos lugares cimeiros. Não devo omitir a Torre de S. Sebastião da Caparica, que é a primeira fortaleza de artilharia de costa e encontra-se ao abandono há décadas".

Na arqueologia industrial, Gastão de Brito e Silva destaca a Fábrica das Devezas, "pela sua história, dimensão e importância, além do desleixo a que foi votada, é um dos maiores crimes patrimoniais que testemunhei. A sua revitalização daria resposta ao mercado da reabilitação recorrendo às “peças originais”, uma vez que esta produziu para todo o país e ao longo século e meio, a maior parte dos materiais de construção".

"Em termos de património urbano, e não seria exagero nomear o Cinema Batalha, no Porto, pela sua imponente arquitectura, localização e desaproveitamento, torna-o num ?elefante branco'  que a todos nós incomoda… "

Na arquitectura  palaciana, o foco incide na Quinta do Duque em Alpriate, "por se tratar da primeira manifestação neoclássica em Portugal, além de todo o seu peso e valor histórico. Também a Casa da pesca do marquês de Pombal em Oeiras, pelo seu estado de degradação, importância histórica e riqueza arquitectónica deve ser referida… e reabilitada".

Na arquitectura vernacular, Gastão de Brito e Silva destaca a Quinta de Santo António, em Rio de Moinhos, sublinhando que "foi uma das que mais me impressionou, devo referir que nesta tipologia, também os campos por cultivar são uma outra forma de ruína". E na arquitectura de veraneio, o caso mais flagrante para o fotógrafo são as cavalariças de Santos Jorge no Estoril, "pois além de constituírem uma magnífica obra de arte nova, contaminam culturalmente, economicamente e em termos ambientais uma das mais ricas zonas do País".

Segundo Gastão de Brito e Silva, a fotografia é sem dúvida um meio eficaz de sensibilizar para a urgente necessidade de reabilitar. Até porque "é pela imagem que se consegue com mais eficácia transmitir uma mensagem de alerta". Segundo o fotógrafo, "a fotografia é por si uma realidade, que congela um determinado momento, Ilustrando desta forma não só a degradação, como todo o ambiente envolvente. Confiando na ?eloquência' de uma fotografia pode-se expor e interiorizar com mais rigor, pois a sua apreciação é mais demorada e ponderada do que a próprio edifício retratado".

Relativamente à mostra, Gastão sublinha ainda que "a linha gráfica deste projecto, reforça pelos contrastes a dramatização, expondo a ruína na sua cor original criando um ambiente drástico pelos contrastes de preto e branco. Embora não calculada, foi esta uma forma eficaz de chamar a atenção à degradação do património edificado".

"Portugal Cem Ruínas" pode ser visitada entre as 10h ? 13h e as 14h ? 18h, nos dias úteis. O acesso é gratuito.

in Construir

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