"Qualquer estrutura em contacto com o solo pode ser convertida numa geo-estrutura energética"

TuneltunelPara Fleur Loveridge, a engenharia tem "algo para contribuir para o desafio do consumo de energia. A investigadora da Universidade de Southampton abordou o tema da aplicação de geo-estruturas de energia como forma de reduzir o consumo de energia do edificado, na sua apresentação intitulada "Energy Geo-structures: Principles, Barriers, Opportunities", por ocasião do workshop "Thermoactive geostructures: Experiences in Europe", decorrido no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

O "problema" no consumo energético

Na sua intervenção, Loveridge destacou os dados da Agência Internacional da Energia, que demonstram "um aumento do consumo global de energia entre 1973 e 2012", referindo que que 50% da energia consumida nos edifícios na Europa e na América do Norte está relacionada com aquecimento ou arrefecimento. "Na década de 70, quase dois terços do consumo geral de energia provinham de países da OCDE", continuou a engenheira britânica, explicando que este valor, entretanto, decresceu, face ao aumento do consumo energético na China e noutras partes da Ásia. De acordo com Fleur Loveridge, "existe um problema" no campo do consumo energético e "os engenheiros civis e geotécnicos têm algo para contribuir para a resolução deste desafio". Neste contexto, a engenheira ressalvou que aquecimento e arrefecimento representam uma grande parte das necessidades energéticas. Perante isto, como poderão contribuir as geo-estruturas energética? "Há muitas possibilidades", respondeu Loveridge, explicando que "qualquer estrutura de engenharia civil em contacto com o solo pode ser convertida numa geo-estrutura energética".

"Limite é a imaginação"

"Neste momento, os tipos mais comuns são as estacas de energia, que utilizamos como estacas de fundação e são permutadores de calor", mas já foram testadas outras, como lajes ou caves, particularmente no Norte da Europa ? "podem não ser tão eficientes como estacas de fundação, mas são bastante baratos e fazem uma boa contribuição", ressalvou a investigadora. Nas estações ferroviárias subterrâneas e nas estações do metropolitano, pode recorrer-se a paredes de contenção escavadas, ligadas, por uma série de tubagens, a uma bomba de calor. Nestas paredes, e na situação descrita, existe uma vantagem adicional em termos de geo-estruturas termoactivas, devido à fonte adicional de calor resultante do movimento das carruagens. No fundo, como referiu Loveridge, no contexto de transformar estruturas de engenharia civil subterrâneas em geo-estruturas energéticas, "o limite é a imaginação".

Menor custo operacional

Tratam-se de sistemas de geração de energia mais caros que os convencionais. Contudo, essa condicionante poderá ser ultrapassada por vantagens como o custo operacional mais baixo, o reduzido espaço necessário à instalação destes sistemas, o reduzido consumo de energia destes sistemas quando estão em funcionamento e a consequente redução de emissões de dióxido de carbono. A estas vantagens, junta-se ainda a da conveniência que advém da versatilidade destes sistemas, que podem ser instalados "em qualquer condição geológica". "Quando desenvolvemos um sistema, tentamos relacionar as alterações de temperatura que podem ocorrer na estrutura ou no solo envolvente com os nódulos térmicos instalados", explicou Fleur Loveridge. Em termos do retorno do investimento, está estimado em oito anos, contudo, este retorno depende de factores como custos de capital, custos da energia, eficiência, disponibilidade de programas de incentivo e o coeficiente de performance.

Falta "know-how"

Perante estas vantagens, porque não estão a ser estes sistemas mais utilizados? Segundo a investigadora britânica, o custo elevado comparativamente com os sistemas tradicionais é um elemento dissuasor. "A eficiência tem que ser maior que o rácio do custo de energia", destacou Loveridge, explicando ainda que esta eficiência terá também de ser superior ao rácio da densidade de carbono. Por outro lado, existem desafios associados na construção, uma vez que a instalação de um destes sistemas poderá aumentar os custos de uma obra, dependendo do tipo de estacas utilizado ou da experiência e "know-how" de quem executa. Existem também desafios relacionados com a falta de orientação e experiência na concepção de um projecto que inclua geo-estruturas. Por fim, existem ainda barreiras políticas e institucionais que impedem a difusão da aplicação desta tecnologia. Todavia, para Fleur Loveridge, estas condicionantes não são suficientes para impedir uma futura implantação desta tecnologia visto que as geo-estruturas de energia "oferecem uma forma sustentável de guardar energia renovável para aquecimento no solo".

in Construir

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